domingo, 9 de dezembro de 2012

A Balança de um Aláààfin

Para o povo Nagô, o conceito de vida e morte é importantíssimo. O nascimento para uma nova vida e a perpetuação do ser, fazem parte integrante do seu ritual. A morte não é o fim, para os Nagô, é apenas um ciclo que reinicia, pois acreditam na reencarnação (Àtúnwa), o indivíduo retorna à sua família, reencarnando novamente. Seria algo terrível quebrar este ciclo que mantém assim com homens e mulheres dentro da sua família.

 Ègun é a certeza que Ìkú está presente, ele volta do reino da morte afirmando que esta existe, e se faz visível para os olhos humanos.

 Inicialmente a Orí é o conceito da individualidade procedente da criação de um Òrìṣà, esta Orí será cultuada no Àiyé como uma divindade. Esta cabeça estará fechada a certos Èwọ̀ (proibições) e riquezas que a ela e somente ela poderá carregar.

Uma Orí é a personificação do elemento humano, podem lhe retirar tudo – roupas, cabelos, dignidade, dinheiro e poder – mas jamais retirarão o seu intelecto, porque ele está incrustado no seu ser, na sua Orí. Você é quem é pelo simples fato de carregar uma Orí. Esta Orí faz parte do comunitário e está ligada ao seu ancestral, você foi e será um elemento cultuado através da sua Orí.

[i]O Igbá-orí representa o nosso destino e nossa ancestralidade

Este conceito é totalmente preservado dentro da cultura Nagô. Encontramos esta mesma consciência no RS, mesmo que algumas Ilé se abstraiam da consciência do ato e ritual, mas estão preservando de alguma forma seus rituais e conceitos de individualidade e pessoa.

Sabendo que ao olhar para o Igbá-orí para entender o que está em suas mãos, é necessário abster-se de todo e qualquer conceito para chegar ao entendimento do que é a sua personalidade alma, imortal e eterna. Só assim saberá quem é, e o que faz na religião perguntando para onde irá. O Bori tem a finalidade de cultuar a Orí separado da feitura do Òrìṣà, o Bori nada mais é do que a consciência da pessoa, a imortalidade e perpetuação daquele indivíduo como membro de uma comunidade que deverá ser cultuada mesmo após a transição para o reino de Ìkú.


[ii]No Brasil, nas comunidades de candomblé e demais denominações religiosas afro-brasileiras que seguem mais de perto a tradição herdada da África, a morte de um iniciado implica a realização de ritos funerários. O rito fúnebre é denominado Aṣeṣe na nação Ketu, tambor de choro nas nações mina-jeje e mina-nagô, sirrum na nação jeje-mahim, Nago e no batuque, ntambi ou mukundu na nação angola, tendo como principais fins os seguintes:

1) desfazer o assentamento do ori, que é fixado e cultuado na cerimônia do bori, cerimônia que precede o culto do próprio orixá pessoal;

2) desfazer os vínculos com o orixá pessoal para o qual aquele homem ou mulher foi iniciado, o que significa também desfazer os vínculos com toda a comunidade do terreiro, incluindo os ascendentes (mãe e pai-de-santo), os descendentes (filhos-de-santo) e parentes-de-santo colaterais;

3) despachar o egum do morto, para que ele deixe o aiê e vá para o orum. Como cada iniciado passa por ritos e etapas iniciáticas ao longo de toda a vida, os ritos funerários serão tão mais complexos quanto mais tempo de iniciação o morto tiver, ou seja, quanto mais vínculos com o aiê tiverem que ser cortado (Santos, 1976).
Mesmo o vínculo com o orixá, divindade que faz parte do orum, representa uma ligação com o aiê, pois o assentamento do orixá é material e existe no aiê, como representação de sua existência no orum, ou mundo paralelo. Mesmo um abiã, o postulante que está começando sua vida no terreiro e que já fez o seu bori, tem laços a cortar, pois seu assento de ori precisa ser despachado, evidentemente numa cerimônia mais simples.

Retornando ao Sirrum ou conhecido como Aṣeṣe tem a finalidade de desfazer o assentamento da Orí, Neste ritual será preparado o templo para a passagem daquele indivíduo e a iniciação do culto ao mundo dos Egungun. Algumas manifestações ocorrem durante o ritual, porém não são os Òrìṣà que costumam dançar nos templos durante as “rodas de santos”. Chegam em silêncio, e se portam totalmente diferente das divindades de alguns cavalos que estão no transe.

Este ritual possui também a finalidade de quebrar os vínculos com os parentes religiosos, nota-se que a Ori foi escolhida por um orixá durante a vida do ẹlẹ́gún ela carrega o Òrìṣà harmonizando Orí + Òrìṣà durante a vida toda deste Omoriṣá, o Sirrum está desfazendo este vínculo, e formalizando para aquela Orí que a partir desta iniciação ele não pertence mais ao, que ele será cultuado no Ìgbálẹ̀ e que sua realidade é outra.

Porém mesmo assim ele não perde os vínculos com o Òrìṣà e mantém suas características, preservando a consciência e mantendo sua existência representada pela forma daquele Òrìṣà ao qual foi iniciado.

Cada etapa ao qual foi designado o ẹlẹ́gún como Orí-bibọ́, Bori ou feitura cria vínculos com o terreiro. Estes rituais se repetem durante a sua extensão religiosa, podendo-se notar que nem um deles é retirado, porém ele se repete acima de cada um deles, como se o primeiro fosse reafirmado em cima de cada um dos rituais na seguinte ordem - os Akọ awùrẹ̀ (cabrito), Àkùkodìẹ e Adìẹ (galos e galinhas) e finalmente por cima de tudo os ẹyẹlé (pombo) -. Apesar de já ter ouvido por uma Iyalorisá que o Orí-bibọ não tem importância alguma eu não consigo vê-lo ele desta forma, basta saber um pouco do ritual para entender a importância perpetuada neste ritual que finaliza todas as obrigações descendentes.

Exigindo a responsabilidade de desfazer cada etapa para liberar aquela Orí para o ọ̀run - da mesma forma que ocorre com o Òrìṣà que é despachada suas ferramentas, Otá e tudo que lhe pertence - ficando esporadicamente apenas aquele Òrìṣà daquela Orí, raras vezes o herdeiro do Ilé fica com o Otá para manter o culto á aquele Òrìṣà.

O Aṣeṣe na cultura Nagô mantém o Yara-bọ fechado, durante sete dias apenas, as quartinhas permanecerão sem água, os santos sem velas e cobertos e com Alá brancos em sinal de luto, nada se faz para eles apenas o Aláààfin Baru está presente na Ilé regendo o ritual.

No Quinto dia iniciam-se os rituais finais. Eu acredito que seja porque para o povo Yorubá a semana tem apenas quatro dias, ainda assim leva mais ou menos dois dias, até que o Egungun seja tratado.

E é no sexto dia que se abre o Ìgbálẹ̀ quando se forra o chão com folhas de mamona, faz-se uma cama com canjica amarela dependendo do fundamento da Ilê, em acima dela deposita-se o amalá (com uma verdura especialmente usada nos rituais de Egungun), tempera-se com Oyin (mel) e Epo pupa (dendê), vela-se os quatro cantos do buraco.

A partir deste momento inicia-se o ritual propriamente dito, Baru come com Egungun e chama os ancestrais masculinos de um lado e os femininos do outro lado para começar a derrubar os Akọ awùrẹ̀ (cabrito) e Àkùkodìẹ e Adìẹ (galos e galinhas). As cerimônias dependem do grau iniciático do ẹlẹ́gún. Os que possuem iniciações mais simples, o sirrum será mais simples, determinando desta forma a quantidade de bichos e tipos que serão derrubados naquele Ìgbálẹ̀.

Este ritual demora em média, um dia e meio, pois irá corear e depenar todos os animais, porém não será servido nem um bicho que foi morto no Ìgbálẹ̀, eles são despachados limpos e inteiros. Até o final da celebração o Ilé fica com o quarto de santo fechado e não joga búzios, não passa serviços não atende clientes, a casa simplesmente fica sem trabalhar, pois se acredita-se que os Òrìṣà deram lugar para os Egungun. A única divindade que permanece na Ilé é Baru, como um rei que supervisiona os rituais e impera sobre a Nação. Quem sabe seja por isso que não entregam cabeças para esta divindade, apesar de ser o grande rei e patrono de algumas Ilé Nagô, acredita-se que ele não deve ser cultuado na Orí.

A presença do Rei Baru é notada pelo som do Ilú (tambor de dois lados), empachado com cordas que devem ficar frouxas neste ritual dando um som abafado. Os membros da Ilé permanecerão no recinto com as vestimentas adequadas e só poderão sair após embalar o Egungun para fora do templo. E assim finalizando o Sirrum embalando o carrego para fora nas cantigas de Egungun, lhe dizendo que o seu tempo não é mais o tempo dos vivos. Acenando pequenos pedaços de pano branco se despedindo suavemente, levando os Eguns que vieram buscar o novo membro da confraria. Nota-se que todo ritual será praticado em cima do assentamento do Kamuká, situado no meio do salão das Ilé Nagô. Acredito que seja mais um motivo do cuidado que não assentar Aláààfin Baru na Orí de algum ẹlẹ́gún.

Quem é Baru
Na África o culto à este Aláààfin esta cercado de tabus, pois durante seu reinado cometeu muitas atrocidades, motivo pelo qual os africanos não o raspam nem assentam. Não fazia prisioneiros, matava todos, incendiou seu reinado e possuía um temperamento incontrolável.

Kamuka = Baruolofina, Aláààfin de Oyó



[i] Conceito - Luiz marins

[ii] Conceitos de vida e morte no ritual do Aṣeṣe - Reginaldo prandi




Por Erick Wolff∞

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Erês ou Aṣerè



Os Erês ou Aerè fazem parte das religiões afro-brasileiras, mas muito pouco se diz sobre eles, por isso ofereço esta pagina aos Erês ou Aerè.



Babá Jimmi, (nigeriano)
Sosni - No culto do Oriá africano, o iniciado tem um Erê (criança) como aqui no Brasil?
Babá Jimmi - Na África não se incorpora Oria, ele se manifesta no Elegun (Ex.: Elegun de Ogun, Oxun, etc), já a manifestação de Erês passa a ser parte exclusiva do culto afro-brasileiro.

Sosni - O que é Elegun?
Babá Jimmi - Elegun (Elégùn) é a palavra que exprime o conceito dos "iniciados" nas religiões de matriz africana e afro-descendente, inerente ao culto do Oriá. No Brasil é chamado de Candomblé. É aquele que passou pela iniciação, Feitura de santo ou iniciação ketu, sujeita ao transe de possessão.

Sosni - Esta criança é parte do Oriá ou é uma divindade a parte?
Babá Jimmi - África não se cultua Erê, cultuamos Ibeji. (não existe incorporação).

Sosni - Se o orixá é cultuado na natureza, onde fica este Erê?
Babá Jimmi - Esse tipo de culto é diferente do africano.

Sosni - Por que todos os historiadores famosos como Fatumbi nunca fizeram uma única nota sobre Erês?
Babá Jimmi - Por que na África se cultua Igbeji e não Erês.

Sosni - Quem são os Erês?
Babá Jimmi - Na África seria Abiku, Ebé ou Igbeji e não está relacionado ao culto de Oriàs.


Tata Matamoride, (Brasileiro)
Sosni - Como surge o Erê no culto afro-brasileiro?
Tata Matamoride - O Erê pertence unicamente ao culto Brasileiro vinculado ao Oriá africano, pois sabemos que a nação de Angola foi a primeira a incorporar o Erê dentro do candomblé batido no Brasil. Ainda sem dados exatos pela dificuldade de material registrado, mas observando o comportamento percebemos que o Erê foi gerado pela necessidade da própria religião e adaptado pelos demais cultos afro-brasileiros para auxiliar nos rituais.
Longe do seu país os africanos sofreram influência oral e religiosa de vários povos, pois naquela mistura de culturas houve quase o que vemos hoje em dia nas casas de candomblé, que recebem fundamentos, mas estão distantes do seu país de origem, mantendo uma tradição viva. Sendo assim para ajudar na prática e ritual o Erê foi de grande importância para os rituais no Brasil. O culto do Brasil é uma religião à parte da África.

Sosni - Qual a necessidade do Erê?
Tata Matamoride - A função do Erê dentro do culto se fez pela necessidade de orientar o Oriá nos rituais adaptados. Claro que foi muito bem elaborado para esta adaptação, pois está claro que nossos orias surgem da matriz africana, mas, são tratado e cultuado de forma a parte da tradição deles.

Sosni - Existe algum ritual praticado para Erês?
Tata Matamoride - Observe as vestimentas seguem, ainda, influência do primeiro e segundo reinado, nossos sacerdotes queriam dar o melhor ao vestir os santos com o costume da época, o que se mantém até hoje nas saias rodadas, bombachas, capacetes e coroas. Apesar de que alguns babalorixás exageram nas vestimentas, lamentável de se ver nos candomblés e nações do Brasil.
Tais costumes mantiveram-se na tradição dos templos e foi por meio da quitanda de Erê (candomblé de Angola), igbas para Erê (roupas coloridas e com enfeites) que os Erês se espalharam para os demais candomblés.

Sosni - Mas onde moram estes Erês? são divindades?
Tata Matamoride - O Erê é o mensageiro do Oriá, porem, não chega a ser uma divindade. Observe que nas casas de Angola levantam-se devidos Igbas para o mesmo, com características e formas para cada Erê. Mas nem todos iniciados possuem Erê, apenas os rodantes no santo, que por sua vez, são batizados com um nome especifico. Por não pertencer ao mundo dos Orisás o Erê habita um mundo diferente, mais distante dos espíritos, pois ele é uma entidade distinta dos cultuados na Umbanda.



Resenha Erick Wolff8
Sabemos que o Erê ou chamado Aerê não é a manifestação do Orisá com postura infantil, apesar estar provado existir um grande vinculo entre ele e o Orisá, estando presente no orí do elegun que pertence ao ritual afro-brasileiro.

Então quem são os Erês ou Aerès? Os encontramos em toda casa de nação, mas não existem referências literárias que explique.
Há inúmeras teorias sobre o tema. No entanto, a maioria não deixa clara a sua origem.

De acordo com Baba Jimmi não existem Erês na áfrica como os cultuados aqui. Já o Tata Matamoride que explica a origem dos Erês e o ritual que os envolve, afirma que eles são brasileiros e que não se trata do Orisá com postura infantil em momento algum.

Longe da definição de ser o próprio Oriá manifestando sob o feitio meio abobado e descontrolado, para descansar a matéria antes do Elegun acordar, o Erê ou Aerè é um mensageiro do próprio Oria dentro das nações, para que ele seja a fala do santo e o aprendizado do filho para a preparação dos rituais e danças que exercem grande função dentro do ritual afro-brasileiro.
Há quem completa que a função dos Erês e Aerès serve para trabalhos manuais que o elegun desempenha durante o transe.

Mas devemos levar em consideração o poder e força que o Oriá possui, sendo assim levanta-se a duvida da consciência ou poder que o Oriá pode exercer sobre o cavalo de santo durante a manifestação do erê ou chamado aerè.

Ao citar entidades não podemos imaginar que seria um espírito, afinal durante o ritual do Oriá não se manifestam espíritos e se houver logo é despachado, o mesmo deve ser mantido fora do culto. Indo além devemos observar que alguns Iyawos também estão atracados com os contra-eguns e não podem virar em espíritos por isso descartamos logo a hipótese de entidades encantados.

O sacerdote moderno se preocupa tanto com o resgate da cultura africana que deixa passar simples detalhes. O Aerè sempre deverá se manifestar logo após a presença do Oriá na religiões praticadas no sul, sendo impossível o Aerè se manifestar sem a passagem do oriá primeiro.

Em outras culturas afro-brasileiras, o culto difere em rituais e fundamentos, e para o Erê assim chamado pela maioria das casas de candomblé, levantam assentamentos e tratamento separados, ficando encarregado de acostumar o elegun para o ritual e chagada do orixá, pois a sua função passa a ser primordial para o desenvolvimento do iniciado. E na maioria das casas não existe necessidade do Oriá passar primeiro, podendo o Erê virar antes do santo algumas vezes.

Mas onde mora a energia desta divindade a qual mencionamos e vemos constantemente nos rituais?

No orùn deve haver um espaço rompido onde os homens esqueceram-se de estudar. Onde habitam esses seres e a maioria ignora ou desmerece sua importância? Sabemos que o Aerè ou Erê tem poder ser trazer as vontades e trazer muitas mensagens do próprio oriá, algumas distorcidas, mas existe um elo grande entre o oriá e o Aerè, que deve ser respeitado.

Lapidar esta energia e estudar a sua fonte é algo que me desperta curiosidade. Sabendo, por suposição, que os Oriás ao se manifestarem retiram da memória do filho o seu conhecimento durante o período que esteve no mundo, o Aerè possui poderes relativos, pois muitas vezes ele trabalha horas a fio sem cansar a matéria e não deixa vestígios da sua passagem, principalmente dentro de uma nação trata como tabu a chegada do santo. Essa falta de contato entre os cavalos de santo e o Orixá dificulta muitas vezes a pesquisa, pois se não podemos contar que o santo chegou também não temos como provar ou estudar a veracidade do assunto.

Tirando a utilidade braçal dos Aerès nos serviços da casa, acredito que a sua presença é dispensável, pois a divindade (Oriá) não deixa vestígios ou matérias cansadas mesmo depois após dançar horas à frente do tambor. Sendo assim, a chegada do Aerè poderia se resumir apenas aos dias de serão (obrigações onde tem muitas tarefas depois do orô).

Se pensar novamente que o Aerè é uma fragmentação do Oriá então ele poderia chegar a qualquer momento dentro de uma casa nagô, mas isso não ocorre, existe como disse um certo ritual para a sua presença, logo ambos estão unidos e após ele trabalhar, o Oriá se manifestas passando pelo corpo do cavalo novamente levando o Aerè e deixando o filho. Então quebra-se novamente a tese da divindade única. Pois bastaria ele ir sem a passagem novamente do oriá.

Os Erês do candomblé recebem nomes ligados ao Oriá do iniciado: Pipocão e Formigão, para os filhos de Obaluaiê; Pingo Verde e Folhinha Verde, para os de Oxóssi; Rosinha (flor), para os de Oxum; Conchinha Dourada para um de Yemanjá, por exemplo.

Aiwère – louco, idiota, estado de transe onde o elegun se porta como uma criança.

Abiku na Religião Yorùbá, acredita-se que: são crianças que terão passagem curta pela terra, ou seja, não viverão por muitos anos.
Nas religiões afro-brasileiras existe ainda uma explicação que diz: os Abiku, se constituem numa sociedade de espíritos, onde a regra é vir à Terra (encarnar) mas viver apenas por um curto período. Sabe-se que antes de encarnar o espírito se compromete com a comunidade dos Abiku, a qual pertence, de voltar o mais rápido possível, estabelecendo, inclusive, data e hora. Existem ebós para quebrar esse pacto do espírito com a sociedade dos Abiku, permitindo assim, que o espírito viva por mais tempo na Terra. Na terra dos yorubás, acredita-se que quando nasce um Abiku significa que a família tem dívidas espirituais a pagar. Por isso, o nascimento de uma criança que necessitará de muitos cuidados espirituais para evitar sua morte prematura — o que sempre é um sofrimento para os pais. Assim como o nascimento de gêmeos, Igbeji é uma grande honra e uma grande alegria para a família, o nascimento de um Abiku é sinal de problemas e de preocupações. Esses espíritos pertencem ao egbé Abiku e não a um egbé da terra. Por isso sua forte ligação com o orun e sua necessidade de sempre tentar voltar ao seu egbé, o que pode causar a morte prematura da criança entre o primeiro e o sétimo ano de vida.

Igbejis são divindades gêmeas infantis, é um Oriá duplo e tem seu próprio culto, obrigações e iniciação dentro do ritual.

Criança Na umbanda apesar de grande semelhança, estamos falando de espíritos que não tem vinculo com o candomblé, cada pessoa tem como uma das entidades espirituais que recebe um espírito infantil, as crianças.

As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os demais Voduns. Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual Benin. Eram cultuadas na Casa das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década de 60.
As Tobossis gostavam de brincar como todas as crianças e falavam em dialeto africano, diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito entendê-los. Sem contar que, muitas das palavras elas falavam pela metade.


Babá Jimmi, (nigeriano)
Otunba Adekunle Aderonmu / Babalawo Ogun Jimi
http://www.princeadekunle.com
Naturalizado brasileiro nasceu em Abeokuta, na Nigéria.
è formado em Bioquímica na Universidade de Lagos e é considerado Otunba (Rei) em seu país, devido a herança de família nobre e tradicional, com rei e autoridades no atual governo da Nigéria.
Em nosso país ele vive há cerca de duas décadas, desenvolve atividades empresariais e, além disso, é sacerdote religioso.


Tata Matamoride, (Brasileiro)
Sacerdote de candomblé, respeitadíssimo pela luta em prol as religiões afro-brasileiras, vem trabalhando para informar as necessidades e problemas da comunidade para os políticos brasileiros.
Diretor do site http://www.portaldocandomble.pro.br

sábado, 29 de setembro de 2012

COSME E DAMIÃO - UMBANDA

Hoje estivemos no bairro Jd. Noroeste para distribuir os doces do dia de Cosme e Damião! Tivemos uma festa no Ilê no dia 25/09 e os doces que foram presenteados aos cosminhos foram entregues hoje às crianças! Foi a maior farra! Todos nos divertimos muito! Eles adoraram!
Muito obrigado aos filhos, amigos e netos que nos ajudaram na distribuição!

Confira as fotos!






















quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Quando foi que o culto Afrosul perdeu o conceito do Ojúbọ?

Por Erick Wolff8

  Para quem não sabe o que é um Ojúbọ - "é o lugar na casa usado para adoração de ancestrais e dos santos protetores da família. Altar dos “assentamentos” dos Egungun (mortos) da família”. 
  Entre a diversidade das religiões Afrobrasileiras, o Ojúbọ é um local sagrado comunitário onde os integrantes daquela família adoram as divindades, ancestrais e entidades cultuados no templo. Para muitas casas o Ojúbọ é um local onde as oferendas são comunitárias e abertas para todos iniciados daquela família, seria um local onde os integrantes teriam acesso e poderiam participar das celebrações e oferendas.
  O Ìgbàlẹ̀ [pequena mata, lugar secreto, destinado ao culto a Egungun] na cultura Afrosul , foi um dos Ojúbọ que permaneceu nesta religião, porem deixou de ser um local de adoração aos ancestrais [Ojúbọ] para se tornar um ícone de temor e feitiçarias, bem do tipo tome cuidado, pois aquele Baba tem Ìgbàlẹ̀ e deve ser temido. Infelizmente o “Egungun” deixa de ser um ancestral cultuado com honrarias e respeito para virar um tipo de “Pit Bull” na porta dos templos, muito usado para as desavenças e brigas religiosas dos Batuqueiros, agora imagine os seus irmãos e mais velhos que viveram com honra e se dedicaram ao culto, pós morte se tornando carrego de "Ẹbọ Buruku", ou "galo de rinha" contra os inimigos. Um triste fim para quem viveu, seguiu os ensinamentos e se dedicou aos Òrìṣà. Por este conceito e contaminação ritualística que eu vejo os Egungun sendo mau usados entre as famílias mais velhas. Um ancestral deveria aconselhar e ajudar as comunidades nos piores momentos, diferente de te-los para terroristas ou para feitiçarias. 
  O conceito correto do Ojúbọ dentro da cultura afrobrasileira seria o de partilhar com toda a comunidade os assentamentos sagrados, como o exemplo acima citado sobre o Ìgbàlẹ̀. 
  Devo imaginar que a casa do Lode [o Òrìṣà Bara cultuado entre o povo Batuqueiro, seu assentamento fica na entrada dos templos], é a única que ainda se mantém como Ojúbọ, pois ela partilha da segurança e fundamentos coletivos desta nação, para isso ali são feitos cortes, serviços e Ẹbọ [oferendas, descarregos e feitiços] diversos para a comunidade. Apesar de que percebo que ainda existe um pequeno problema dentro do conceito Bọrí e Òrìṣà na estrutura Batuque Afrosul, a liturgia deste povo considera que o Bọrí deve ficar ao lado do Òrìṣà, quando um Ẹlẹ́gùn [iniciado] é do Bara Lode, logo este Bọrí deve ficar na casa dele, eu chego reconsiderar alguns pontos deste fundamento, pois todos nós sabemos que na casa do Lode muitas vezes fica troca de vida, Ẹbọ Dudu [descarrego] e Buruku [oferenda ligada a morte], além dos carregos que são atirados naquela casa. Agora imagina um Bọrí de um Ẹlẹ́gùn dentro desta casa, qual será o resultado? 
  O Lode que geralmente fica em contato com o chão, não deve ficar em prateleira, desta forma o Bọrí dos Ẹlẹ́gùn do Òrìṣà Lode não devem ficar acima do próprio Òrìṣà, sendo assim ou o Bọrí fica no chão ou o Bara Lode deve subir para uma prateleira. Mas então como fica o fundamento deste Ojúbọ? É justamente sobre o Lode que para muitos Baba e Iyá, são feitos feitiços de segurança e até mesmo feitiços de demanda para a comunidade religiosa e clientes pertencente ao templo, que gera o conflito de conceitos sobre o Ojúbọ do Lode. Então para onde iria este Bọrí? 
  Eu penso que o Bọrí deve ficar separado ao lado dos Bọrí de todos os filhos do templo, para que saibam que aquele local sagrado guarda apenas os Bọrí, mas para isso o conceito de pessoa e feitura deveria ser analisado com maior atenção, pois o Bọrí é feito para o Orí e não para o Òrìṣà, mesmo sabendo que o Ẹlẹ́gùn pertence uma ancestralidade divina ligando o Orí às divindades Africanas, isso não quer dizer que o Bọrí deva ser feito para o Òrìṣà, pois estamos falando sobre o trato e culto para fortalecer o Orí e não o Òrìṣà, assuntos distintos e muito bem separados para o culto e trato do Òrìṣà ao trato do Bọrí. 
  Se o Batuque Afrosul possui o conceito de Ojúbọ ele está muito dissipado entre as famílias, algumas nem mesmo sabem o que é um Ojúbọ, na maioria não devem saber nem a funcionalidade do Ojúbọ numa comunidade religiosa. Por isso quem sabe, haja necessidade de analisar profundamente os fundamentos e conceitos desta rica cultura, que possui grandes fundamentos e ritualística. Como o Bọrí de 4 pés para o Ẹlẹ́gùn, considerando que aqui no Brasil as vertentes afrobrasileiras, não costumam dar Bọrí de quatro pés, mas é comum vermos este procedimentos em algumas aldeias africanas, não sabemos ao certo o porquê o Batuque manteve esta tradição tão ativa, mas eu penso que foi para perpetuar o culto ao Orí [cabeça], relembrando a importância do mesmo no principio da estruturação desta religião. 
  Talvez o Ojúbọ funcionava como uma grande família que comungava dos assentamentos dos Baba e Iya chefes dos templos. Baseando-me nos preceitos desta religião, foi fácil perceber que todo sacerdote para abrir uma casa necessitava possuir o Irunmole completo, como os Òrìṣà comunitários da rua [que ficam do lado de fora do templo] e os Òrìṣà do Yara-bọ [quarto de santo], se um determinado Ẹlẹ́gùn viesse para o templo e o sacerdote não tivesse o Òrìṣà cultuado na nação do Batuque sento, não poderia fazer o Bọrí e muito menos assentar o Òrìṣà daquele Ẹlẹ́gùn, sendo assim, somente os Òrìṣà feitos seriam aqueles que o Baba ou Iyá possuísse sento. Com o tempo algumas divindades que ficavam do lado de fora dos “Templos” entraram para o Yara-bọ, com exceção das divindades Lode, Legba, Avagâ, Timbuá, Dirã, Kamuká, Sapakta, Zina entre outros. Talvez para que o Igbá-Orí [louça do Bọrí] pudesse ficar ao lado do Òrìṣà e comungar do Ojúbọ, estes assentamentos deveriam servir como base para a veneração comunitária daqueles que possuem o Bọrí com 4 pés e seu respectivo grau de aprontamento. 
  Em algum lugar do passado os sacerdotes podem ter parado de usar o Ojúbọ para os filhos e os seus assentamentos se tornaram um Irunmole pessoal, perdendo assim totalmente o conceito do Ojúbọ. Mesmo assim ainda podemos notar alguns vestígios apontando para os sacerdotes abrindo casa com todos os santos assentados, Bọrí ao lado ou abaixo dos santos em prateleiras, Bọrí de 4 pés respondendo como uma feitura de Bọrí e Ẹlẹ́gùn com quartinha do Bara respondendo pelo Bara do Yara-bọ. Entre estes pontos é possível notar que em algum tempo remoto os mais antigos devem ter usado a estrutura do Ojúbọ nos templos e decaiu este conceito com o passar dos anos e a modernização. 
  Resgatar a cultura de um povo seria buscar os vestígios dos Ojúbọ, conceitos e costumes que sobreviveram numa cultura tão rica e laqueada, pois os Batuqueiros Afrosul costumar se orgulhar da sua religião, que por sinal consigo ver uma grande riqueza na simplicidade dos rituais fechados. 
  Porem qual a importância do Ojúbọ para a cultura Afrosul? Um Ojúbọ é o alicerce daquela comunidade, quanto mais rezar, quanto mais louvar aquele Ojúbọ, mais aquela comunidade terá poder, eu tenho a plena certeza que a estruturação e o alicerce de uma nação afrobrasileira estão no seu Ojúbọ, são fundamentos e conceitos que geram uma energia ao redor daqueles assentamentos que fazem com que a comunidade inteira se fortifique e prospere. 

Porem note um pequeno comentário.


  Ter um Ojúbọ não quer dizer que este coletivo seja o coletivo dos Igbá-Òrìṣà [louça do Òrìṣà] e Igbá-Orí de cada Ẹlẹ́gùn, afinal ele necessita do seu Igbá-Òrìṣà e Igbá-Orí, porem o Ojúbọ da cultura religiosa Afrosul pode ser considerado o Igbá-Lode, que cumpre a função de responder pela comunidade, sabendo que cada integrante possui o seu Igbá-Òrìṣà e Igbá-Orí, porem é um Igbá-Lode para responder pela comunidade fortalecendo o templo e os alicerces religiosos.
  Minha matéria teve inicio na observação do aprontamento dos iniciados do Batuque Afrosul, que muitos são considerados feitos de Bọrí, mas não possuem Igbá-Òrìṣà, por isso que percebi que em algum lugar do passado o conceito de Ojúbọ deve ter sido usado, mas perdeu-se com o tempo dentro deste povo.




Por Erick Wolff8 


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A influência africana nas religiões Afro-brasileiras


 

Bàbá Erick Wolff8
27/07/2011


 A evolução dos costumes da cultura Afro-brasileira está passando por uma mutação, ao observar a influência dos africanos no Brasil, na atual sociedade religiosa, começando uma humanização dos Òrìsà nos rituais afro-brasileiros, com menos adereços e mais liberdade saindo daquele santo engessado para uma nova realidade cultural, basta ver este vídeo.





Até então a moda era vestir o santo, ou melhor, caracterizavam as divindades seguindo influencia da corte Européia, fazendo com que o Candomblé criasse um verdadeiro ritual de sala, com duas ou três saídas de roupa, uma mais luxuosa que a outra, o que de certa forma chega a ser meio contraditório, se observarmos a forma dos africanos se vestirem não tem nada haver com a realeza da corte do século XIX.
 Este costume criado ao redor das divindades é uma tradição brasileira, que existe desde a fundação das primeiras casas de Candomblé, o Òrìsà vestido com muitas saias, junto com apetrechos e laços muito bem paramentados no Candomblé... A comunidade do Candomblecista deu o melhor de si para as suas divindades, jamais ninguém poderá contestar esta verdade.
 No entanto seguindo por outro caminho a Nação Batuque Afrosul, não desenvolveu o costume das saídas dos santos na sala, criou um estilo diferente para os seus rituais, mantendo o mais próximo da África, onde os mesmos se apresentavam de forma menos rodeada de apetrechos, saias sem rodas, laços e ou paramentos, deixando assim as divindades mais livres para dançar e menos engessados no comportamento, muito semelhante ao vídeo que vemos acima.
 Sendo que no Batuque Afrosul é possível vestir os Òrìsà em duas ocasiões, estas cercadas do momento em que o Òrìsà dará o seu Orúko (nome religioso), logo após passar por provas* ou quando ou Elégùn leva seus Òrìsà para casa, abrindo um novo terreiro. 

Duas culturas com a base religiosa semelhante rodeada de costumes diferentes, que se destacaram no Brasil durante algumas décadas, separados por tradições que causaram grande distanciamento das duas vertentes, afinal o convencional até então deveria ser a forma tradicional Candomblecista, no entanto, atualmente a inversão do comportamento através da vinda dos africanos para o Brasil, abriu novas formas de se portar, chamando a atenção para as culturas Afrosul, que suas divindades já se portam como as divindades que vemos através dos africanos

Infelizmente o Batuque possui um “Tabu” de não fotografar as divindades e muito menos dizer aos Elégùn iniciados nesta religião que seus Òrìsà manifestam-se, criando uma dificuldade para registrar e reproduzir tais divindades para estudo e trabalho, o registro é possível apenas para aqueles que já faleceram, pois o Tabu de não comentar que as divindades manifestam, permanece desde o inicio da estruturação do Batuque.

* Prova – é uma passagem de um ritual do batuque Afrosul, que reúne vários elementos para dar ao Òrìsà, muitos deles são comidas arriadas que ficam durante alguns dias, tornando-se quase impossível de um ser humano ingerir, esta divindade deverá comer tudo que for apresentado e mais alguns elementos que fazem parte deste ritual. Depois de comer tudo, deverá ir à frente do Tambor para dançar, uma prova que por sua vez se torna mais difícil ainda.

** Raro momento registrado, João Carlos foi um Babalorixá do Batuque Afrosul, nesta nação é proibido fotografar e ou contar ao iniciado sobre o transe, sendo assim, muito difícil encontrar registros como este, notem que nesta foto o Òòsàálá, ainda contém uma certa influencia Européia, que com os anos foi sumindo, ficando apenas algumas ferramentas e paramentos, a parte inferior da roupa é uma espécie de bombaixa confeccionada com muitos metros de tecido, criando um volume semelhante a uma saia rodada.


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Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi às 12:03

domingo, 24 de junho de 2012

Ajalá e o mito das mulas sem cabeça


Por Erick Wolff8
08/06/2012


“Ajalá modela a cabeça do homem
Odudua criou o mundo,
Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com o corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos.
Deu-lhe ossos, pele e musculatura.
Fez os machos com pênis
e as fêmeas com vagina,
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura o coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue.
Olodumare pôs no homem a respiração
e ele viveu.
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse
a obra de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e das mulheres.”

O povo Yorùbá acredita que Obatala (a maior divindade cultuada entre os yorùbá, o primeiro ser divino criado, conhecido por Òòsàálá) modela o homem do barro do òrun (mundo espiritual), ou seja, ele cria o homem, com elementos do próprio òrun, porem em momento algum diz que ele cria mulas sem cabeça, este conceito turvo, surgiu em determinado momento em que os africanos vieram para o Brasil discursar sobre a criação do mundo e os seres humanos. 
Assim que os africanos comentaram que o homem recebe um ara (corpo) e segue para buscar sua “Orí” (cabeça), logo os brasileiros entenderam e registraram o maior erro da história da cultura afro-brasileira, ou seja, nasceram as mulas sem cabeça.
Porem o erro foi que não esperaram para que fosse devidamente explicado, é que Orí é abstrato, tal quais os Odù (são considerados os pensamentos de Olorun, o senhor do òrun, odù seria caminhos ou conhecidos por destinos) que são energias mutáveis e cultuáveis, sem que tenham manifestações diretas e possuam um corpo.

Entre muitos erros de conceitos este acima é o pior, que faz com que o homem seja criado como a mula sem cabeça, para mais tarde buscar orí na casa de Ajalá, mas como ele iria buscar a sua cabeça na casa de Ajalá sem que ele tivesse cérebro, ou, uma mente para pensar e desejar...

Todos sabem que Ajalá realmente é o oleiro do òrun, que possui poder de modelar orí, estas que estão ligados aos Odù e variados destinos, por isso, que o culto a orí é individual e em momento algum veremos igual à outra e ou a manifestação de nem uma delas, mesmo sendo uma divindade de suma importância para cada ser humano, tanto que é cultuado antes mesmo da feitura do òrìsà, e ao contrario do que se acredita aqui no Brasil, o indivíduo não pertence a um òrìsà, na verdade quem determina e ou deve ser responsável por aquele individuo sempre será “orí”, nem uma divindade terá poder sem que orí sancione.

“Quando alguém está para nascer,
vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno.
Se Ajalá está bem. faz cabeças boas.
Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas,
passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.”

Realmente há possibilidade do indivíduo pegar orí deformada, por isso, que é feito o ritual do Ebori, para que possa tratar orí e ao mesmo tempo rever seus votos, desejando novos caminhos, para isso, o indivíduo deve passar por determinados rituais e preceitos. 
Outro ponto a discutir é o fato de se ter ou não um igba-orí (recipiente de louça, contendo alguns fetiches representando orí), nem todos os indivíduos precisam ter um igba-ori, o sacerdote pode muito bem dar um Ebori, sem que seja preciso manufaturar um igba-ori.
Então porque se ter um Igba-ori, se não há necessidade de ter um igba-ori, para cultuar esta divindade abstrata tão importante?
Muitas vezes um indivíduo, quer apenas dar um Eborí sem criar vínculos com a casa, nada impede que uma pessoa possa fazer isso, porem para aqueles que desejam seguir o culto a òrìsà, ou, os rituais yorùbá, pode manufaturar um igba-orí, para que possa tratar e cultuar o seu òrìsà individual com maior detalhes.

“Cada um escolhe o ori que vai ter na terra.
Lá escolhe uma cabeça para si.
Cada um escolhe seu ori.
Deve ser esperto, para escolher cabeça boa.
Cabeça ruim é destino ruim,
cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo que é bom. ”

Outro equivoco, pois o individuo não tem como saber o que contém um orí até que chegue no aiye (plano físico), desta forma, não há como ele escolher uma boa cabeça, nem ser esperto com algo que ele não possui este direito, pois segundo a cultura yorùbá, a indisciplina de Ajalá é clara, pois ele não consegue criar todas as cabeças perfeitas, porem pode escolher uma boa, se o indivíduo fizer uma paga para ele, mas como um indivíduo poderia fazer um ebo (oferenda) se ele não possui elementos para isso no òrun, caso fossem assim não haveria pessoas com orí problemáticos.
Por isso, acredita-se que a família do indivíduo que irá nascer pode auxiliar, consultando o oráculo para descobrir um ebo para oferenda para aquele indivíduo que está para nascer. Porem de qualquer forma há possibilidade de através do culto ao orí de melhorar a condição do orí daquele indivíduo através do Eborí.



Bibliografia
Mitologia dos Orixás
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Ajalá modela a cabeça do homem. Wande Abinbola, 1975, pp. 32-3, 125-32. Ajalá está esquecido no Brasil, tendo sido substituído por Iemanjá, a dona das cabeças, a quem se canta, no xirê, quando os iniciados tocam a cabeça com as mãos para lembrar esse domínio, e na cerimônia de sacrifício à cabeça (bori), rito que precede a iniciação ao orixá daquela pessoa. A cabeça, o ori, é associada ao destino, que não pode ser mudado, e mesmo a infelicidade é entendida como conseqüência de uma escolha mal feita. Em Cuba, conforme vários mitos, Odudua teria feito as cabeças, as quais são cultuadas no assentamento individual de cada iniciado da entidade denominada Ossum, que na mitologia africana é uma das mulheres de Orunmilá. Não confundir com Oxum. 


Postado por Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi às 21:55 1 comentários




Antes e depois

ANTES
 
DEPOIS