sábado, 29 de setembro de 2012

COSME E DAMIÃO - UMBANDA

Hoje estivemos no bairro Jd. Noroeste para distribuir os doces do dia de Cosme e Damião! Tivemos uma festa no Ilê no dia 25/09 e os doces que foram presenteados aos cosminhos foram entregues hoje às crianças! Foi a maior farra! Todos nos divertimos muito! Eles adoraram!
Muito obrigado aos filhos, amigos e netos que nos ajudaram na distribuição!

Confira as fotos!






















quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Quando foi que o culto Afrosul perdeu o conceito do Ojúbọ?

Por Erick Wolff8

  Para quem não sabe o que é um Ojúbọ - "é o lugar na casa usado para adoração de ancestrais e dos santos protetores da família. Altar dos “assentamentos” dos Egungun (mortos) da família”. 
  Entre a diversidade das religiões Afrobrasileiras, o Ojúbọ é um local sagrado comunitário onde os integrantes daquela família adoram as divindades, ancestrais e entidades cultuados no templo. Para muitas casas o Ojúbọ é um local onde as oferendas são comunitárias e abertas para todos iniciados daquela família, seria um local onde os integrantes teriam acesso e poderiam participar das celebrações e oferendas.
  O Ìgbàlẹ̀ [pequena mata, lugar secreto, destinado ao culto a Egungun] na cultura Afrosul , foi um dos Ojúbọ que permaneceu nesta religião, porem deixou de ser um local de adoração aos ancestrais [Ojúbọ] para se tornar um ícone de temor e feitiçarias, bem do tipo tome cuidado, pois aquele Baba tem Ìgbàlẹ̀ e deve ser temido. Infelizmente o “Egungun” deixa de ser um ancestral cultuado com honrarias e respeito para virar um tipo de “Pit Bull” na porta dos templos, muito usado para as desavenças e brigas religiosas dos Batuqueiros, agora imagine os seus irmãos e mais velhos que viveram com honra e se dedicaram ao culto, pós morte se tornando carrego de "Ẹbọ Buruku", ou "galo de rinha" contra os inimigos. Um triste fim para quem viveu, seguiu os ensinamentos e se dedicou aos Òrìṣà. Por este conceito e contaminação ritualística que eu vejo os Egungun sendo mau usados entre as famílias mais velhas. Um ancestral deveria aconselhar e ajudar as comunidades nos piores momentos, diferente de te-los para terroristas ou para feitiçarias. 
  O conceito correto do Ojúbọ dentro da cultura afrobrasileira seria o de partilhar com toda a comunidade os assentamentos sagrados, como o exemplo acima citado sobre o Ìgbàlẹ̀. 
  Devo imaginar que a casa do Lode [o Òrìṣà Bara cultuado entre o povo Batuqueiro, seu assentamento fica na entrada dos templos], é a única que ainda se mantém como Ojúbọ, pois ela partilha da segurança e fundamentos coletivos desta nação, para isso ali são feitos cortes, serviços e Ẹbọ [oferendas, descarregos e feitiços] diversos para a comunidade. Apesar de que percebo que ainda existe um pequeno problema dentro do conceito Bọrí e Òrìṣà na estrutura Batuque Afrosul, a liturgia deste povo considera que o Bọrí deve ficar ao lado do Òrìṣà, quando um Ẹlẹ́gùn [iniciado] é do Bara Lode, logo este Bọrí deve ficar na casa dele, eu chego reconsiderar alguns pontos deste fundamento, pois todos nós sabemos que na casa do Lode muitas vezes fica troca de vida, Ẹbọ Dudu [descarrego] e Buruku [oferenda ligada a morte], além dos carregos que são atirados naquela casa. Agora imagina um Bọrí de um Ẹlẹ́gùn dentro desta casa, qual será o resultado? 
  O Lode que geralmente fica em contato com o chão, não deve ficar em prateleira, desta forma o Bọrí dos Ẹlẹ́gùn do Òrìṣà Lode não devem ficar acima do próprio Òrìṣà, sendo assim ou o Bọrí fica no chão ou o Bara Lode deve subir para uma prateleira. Mas então como fica o fundamento deste Ojúbọ? É justamente sobre o Lode que para muitos Baba e Iyá, são feitos feitiços de segurança e até mesmo feitiços de demanda para a comunidade religiosa e clientes pertencente ao templo, que gera o conflito de conceitos sobre o Ojúbọ do Lode. Então para onde iria este Bọrí? 
  Eu penso que o Bọrí deve ficar separado ao lado dos Bọrí de todos os filhos do templo, para que saibam que aquele local sagrado guarda apenas os Bọrí, mas para isso o conceito de pessoa e feitura deveria ser analisado com maior atenção, pois o Bọrí é feito para o Orí e não para o Òrìṣà, mesmo sabendo que o Ẹlẹ́gùn pertence uma ancestralidade divina ligando o Orí às divindades Africanas, isso não quer dizer que o Bọrí deva ser feito para o Òrìṣà, pois estamos falando sobre o trato e culto para fortalecer o Orí e não o Òrìṣà, assuntos distintos e muito bem separados para o culto e trato do Òrìṣà ao trato do Bọrí. 
  Se o Batuque Afrosul possui o conceito de Ojúbọ ele está muito dissipado entre as famílias, algumas nem mesmo sabem o que é um Ojúbọ, na maioria não devem saber nem a funcionalidade do Ojúbọ numa comunidade religiosa. Por isso quem sabe, haja necessidade de analisar profundamente os fundamentos e conceitos desta rica cultura, que possui grandes fundamentos e ritualística. Como o Bọrí de 4 pés para o Ẹlẹ́gùn, considerando que aqui no Brasil as vertentes afrobrasileiras, não costumam dar Bọrí de quatro pés, mas é comum vermos este procedimentos em algumas aldeias africanas, não sabemos ao certo o porquê o Batuque manteve esta tradição tão ativa, mas eu penso que foi para perpetuar o culto ao Orí [cabeça], relembrando a importância do mesmo no principio da estruturação desta religião. 
  Talvez o Ojúbọ funcionava como uma grande família que comungava dos assentamentos dos Baba e Iya chefes dos templos. Baseando-me nos preceitos desta religião, foi fácil perceber que todo sacerdote para abrir uma casa necessitava possuir o Irunmole completo, como os Òrìṣà comunitários da rua [que ficam do lado de fora do templo] e os Òrìṣà do Yara-bọ [quarto de santo], se um determinado Ẹlẹ́gùn viesse para o templo e o sacerdote não tivesse o Òrìṣà cultuado na nação do Batuque sento, não poderia fazer o Bọrí e muito menos assentar o Òrìṣà daquele Ẹlẹ́gùn, sendo assim, somente os Òrìṣà feitos seriam aqueles que o Baba ou Iyá possuísse sento. Com o tempo algumas divindades que ficavam do lado de fora dos “Templos” entraram para o Yara-bọ, com exceção das divindades Lode, Legba, Avagâ, Timbuá, Dirã, Kamuká, Sapakta, Zina entre outros. Talvez para que o Igbá-Orí [louça do Bọrí] pudesse ficar ao lado do Òrìṣà e comungar do Ojúbọ, estes assentamentos deveriam servir como base para a veneração comunitária daqueles que possuem o Bọrí com 4 pés e seu respectivo grau de aprontamento. 
  Em algum lugar do passado os sacerdotes podem ter parado de usar o Ojúbọ para os filhos e os seus assentamentos se tornaram um Irunmole pessoal, perdendo assim totalmente o conceito do Ojúbọ. Mesmo assim ainda podemos notar alguns vestígios apontando para os sacerdotes abrindo casa com todos os santos assentados, Bọrí ao lado ou abaixo dos santos em prateleiras, Bọrí de 4 pés respondendo como uma feitura de Bọrí e Ẹlẹ́gùn com quartinha do Bara respondendo pelo Bara do Yara-bọ. Entre estes pontos é possível notar que em algum tempo remoto os mais antigos devem ter usado a estrutura do Ojúbọ nos templos e decaiu este conceito com o passar dos anos e a modernização. 
  Resgatar a cultura de um povo seria buscar os vestígios dos Ojúbọ, conceitos e costumes que sobreviveram numa cultura tão rica e laqueada, pois os Batuqueiros Afrosul costumar se orgulhar da sua religião, que por sinal consigo ver uma grande riqueza na simplicidade dos rituais fechados. 
  Porem qual a importância do Ojúbọ para a cultura Afrosul? Um Ojúbọ é o alicerce daquela comunidade, quanto mais rezar, quanto mais louvar aquele Ojúbọ, mais aquela comunidade terá poder, eu tenho a plena certeza que a estruturação e o alicerce de uma nação afrobrasileira estão no seu Ojúbọ, são fundamentos e conceitos que geram uma energia ao redor daqueles assentamentos que fazem com que a comunidade inteira se fortifique e prospere. 

Porem note um pequeno comentário.


  Ter um Ojúbọ não quer dizer que este coletivo seja o coletivo dos Igbá-Òrìṣà [louça do Òrìṣà] e Igbá-Orí de cada Ẹlẹ́gùn, afinal ele necessita do seu Igbá-Òrìṣà e Igbá-Orí, porem o Ojúbọ da cultura religiosa Afrosul pode ser considerado o Igbá-Lode, que cumpre a função de responder pela comunidade, sabendo que cada integrante possui o seu Igbá-Òrìṣà e Igbá-Orí, porem é um Igbá-Lode para responder pela comunidade fortalecendo o templo e os alicerces religiosos.
  Minha matéria teve inicio na observação do aprontamento dos iniciados do Batuque Afrosul, que muitos são considerados feitos de Bọrí, mas não possuem Igbá-Òrìṣà, por isso que percebi que em algum lugar do passado o conceito de Ojúbọ deve ter sido usado, mas perdeu-se com o tempo dentro deste povo.




Por Erick Wolff8 


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A influência africana nas religiões Afro-brasileiras


 

Bàbá Erick Wolff8
27/07/2011


 A evolução dos costumes da cultura Afro-brasileira está passando por uma mutação, ao observar a influência dos africanos no Brasil, na atual sociedade religiosa, começando uma humanização dos Òrìsà nos rituais afro-brasileiros, com menos adereços e mais liberdade saindo daquele santo engessado para uma nova realidade cultural, basta ver este vídeo.





Até então a moda era vestir o santo, ou melhor, caracterizavam as divindades seguindo influencia da corte Européia, fazendo com que o Candomblé criasse um verdadeiro ritual de sala, com duas ou três saídas de roupa, uma mais luxuosa que a outra, o que de certa forma chega a ser meio contraditório, se observarmos a forma dos africanos se vestirem não tem nada haver com a realeza da corte do século XIX.
 Este costume criado ao redor das divindades é uma tradição brasileira, que existe desde a fundação das primeiras casas de Candomblé, o Òrìsà vestido com muitas saias, junto com apetrechos e laços muito bem paramentados no Candomblé... A comunidade do Candomblecista deu o melhor de si para as suas divindades, jamais ninguém poderá contestar esta verdade.
 No entanto seguindo por outro caminho a Nação Batuque Afrosul, não desenvolveu o costume das saídas dos santos na sala, criou um estilo diferente para os seus rituais, mantendo o mais próximo da África, onde os mesmos se apresentavam de forma menos rodeada de apetrechos, saias sem rodas, laços e ou paramentos, deixando assim as divindades mais livres para dançar e menos engessados no comportamento, muito semelhante ao vídeo que vemos acima.
 Sendo que no Batuque Afrosul é possível vestir os Òrìsà em duas ocasiões, estas cercadas do momento em que o Òrìsà dará o seu Orúko (nome religioso), logo após passar por provas* ou quando ou Elégùn leva seus Òrìsà para casa, abrindo um novo terreiro. 

Duas culturas com a base religiosa semelhante rodeada de costumes diferentes, que se destacaram no Brasil durante algumas décadas, separados por tradições que causaram grande distanciamento das duas vertentes, afinal o convencional até então deveria ser a forma tradicional Candomblecista, no entanto, atualmente a inversão do comportamento através da vinda dos africanos para o Brasil, abriu novas formas de se portar, chamando a atenção para as culturas Afrosul, que suas divindades já se portam como as divindades que vemos através dos africanos

Infelizmente o Batuque possui um “Tabu” de não fotografar as divindades e muito menos dizer aos Elégùn iniciados nesta religião que seus Òrìsà manifestam-se, criando uma dificuldade para registrar e reproduzir tais divindades para estudo e trabalho, o registro é possível apenas para aqueles que já faleceram, pois o Tabu de não comentar que as divindades manifestam, permanece desde o inicio da estruturação do Batuque.

* Prova – é uma passagem de um ritual do batuque Afrosul, que reúne vários elementos para dar ao Òrìsà, muitos deles são comidas arriadas que ficam durante alguns dias, tornando-se quase impossível de um ser humano ingerir, esta divindade deverá comer tudo que for apresentado e mais alguns elementos que fazem parte deste ritual. Depois de comer tudo, deverá ir à frente do Tambor para dançar, uma prova que por sua vez se torna mais difícil ainda.

** Raro momento registrado, João Carlos foi um Babalorixá do Batuque Afrosul, nesta nação é proibido fotografar e ou contar ao iniciado sobre o transe, sendo assim, muito difícil encontrar registros como este, notem que nesta foto o Òòsàálá, ainda contém uma certa influencia Européia, que com os anos foi sumindo, ficando apenas algumas ferramentas e paramentos, a parte inferior da roupa é uma espécie de bombaixa confeccionada com muitos metros de tecido, criando um volume semelhante a uma saia rodada.


Postado por
Ilé-ọba Óbokún Àṣẹ Nàgó'Kọbi às 12:03